A Liberdade de... Gualter Pereira
O espírito consumista que desde tenra idade me equipa, persuade-me a acumular toda a liberdade que consiga, rapidamente, a preço de saldo. Não há espaço para a possibilidade de a distribuir graciosamente, de a apreciar nas mãos do próximo, de a cultivar num terreno comum de humanidade.
Ela, a liberdade, que já esteve literalmente pela hora da morte, é a mesma que agora me é entregue como direito sem regra, para benefício próprio, coxa por isso, da dimensão de empatia. A nova premissa é: "A minha liberdade começa onde termina a liberdade dos outros."
Talvez eu precise de abandonar esta visão de liberdade, focada na óptica do utilizador. Sim, e procurar produzi-la, mais do que a consumir. Quem sabe, seja necessário entrar no domínio do seu cultivo, não por processos industrializados, mas valendo-me dos métodos de uma certa agricultura artesanal.
E porque não fazer da sua colheita, um momento festivo de partilha e comunhão? Quiçá, no fim do dia, tocar à porta de um vizinho para lhe entregar um punhado do fruto colhido, numa demonstração personalizada de solidariedade.
De que me servirá ter em casa um prato cheio de liberdade, se a servidão agrilhoa o ambiente e o mundo do meu semelhante? De que serve a liberdade que não me desembaraça de mim mesmo?
Se um dia a escassez deste bem se generalizar, que a recordação da partilha e da doação, a alegria de encontrar o "Outro" solto de amarras, sejam propulsores poderosos para me fazerem retornar ao desejo inocente dos primeiros dias. Precisamos de ser livres, com seres livres ao nosso lado, para que a árvore da liberdade floresça e se cumpra na plenitude.
A liberdade é uma promessa cravada na terra de que somos feitos.
Texto e imagem da autoria de: Gualter Pereira