A Liberdade de... Loulou
Quando a MJP me desafiou para escrever sobre liberdade… esquece.
É tão cliché começar assim por lhe escrever. Vá lá… já que te sentes tão honrada com o convite, pensa em qualquer coisa que faça jus e escreve, talvez…
Ai… Zé, Zé!...
No que te foste meter. Então lembraste-te daqui da je para escrever sobre liberdade. Em tempos de pandemia????
Que engraçada esta moça. Tem piada ela!
Logo agora que temos a nossa Liberdade…. confinada.
Tal como tu, nasci não conhecendo outra realidade do que a de ser livre, independente, responsável pelas minhas ações e a saber que a minha liberdade acaba quando começa a do outro. Viver numa ditadura ou em plena guerra, só as memórias vividas e partilhadas por quem por elas passou.
Porque falo disto?
Pois… estávamos no início deste ano e todos tão esperançados e convencidos que aqui não chegava. Mas chegou, um novo ditador. Silencioso, invisível e de seu nome covid-19. Que com falinhas mansas nos vende uma falsa fé. Uma falsa ideia de liberdade que nos pode levar, em última instância… à morte ou a privar-nos de um último adeus de quem mais estimamos.
Até há cerca de oito meses atrás, desconhecíamos o que era viver, ver e ter a nossa liberdade restringida. A ter de mandar às urtigas velhos hábitos e criar novas rotinas.
A ter de cada vez que saio à rua colocar uma máscara e andar com gel desinfetante atrás e a de olhar para o outro e vê-lo como… um inimigo?
Logo agora que o que mais me apetece é sair porta fora e pôr-me a abraçar todos os que me aparecem à frente. Se antes não o fazia, agora minha querida, até se me dão ganas para o fazer.
Mas se quiseres um abracinho, mando-te um virtual e não digas que não vais daqui!
A enfrentar um confinamento resultado do Estado de Emergência…. ao qual voltámos... e do qual não sabemos quando iremos sair.
Ai que saudades de levar, ou até de dar, um valente encontrão num desconhecido nas ruas mais movimentadas e em hora de ponta. E de entrar num transporte público apinhadinho de gente sem… lá está… ficar cheia de macaquinhos na cabeça? E tantos outros exemplos.
Almocinhos, jantaradas com os amigos ou a família, bailaricos, concertos, festas de casamento, batizados… quem não tem vontade e saudades dum bom convívio partilhado entre 4 paredes?
Não…. Não Zé.
Queres dançar? Ouve Jerusalema e é cada um no seu quadrado. Ups… nunca a canção do Iran Costa fez tanto sentido.
Custa-me ver heroicos médicos, enfermeiros e auxiliares a se entregarem de corpo e alma, a tudo fazerem para evitar o aumento do número de vítimas mortais, enquanto, uma franja da nossa sociedade, gritantemente se ausência de uma cidadania responsável e a cederem à “tentação…” e assim me privarem, em certa parte, de ter de volta a minha liberdade. Pois pelos erros, vá lá, descuido de uns pagam os outros. Oooooh se a fatura pode ser elevada.
Serei egoísta por querer a minha liberdade de volta?
Ai… se nada volta a ser como antes e a ideia que tenho de liberdade for afinal a de um vício. Sinto-me como se estivesse num processo de desintoxicação, do qual não sei se sairei melhor, renovada e pronta para um novo recomeço.
Não quero viver de recordações.
Raios pá…
Covid-19 bem me tenta Zé, mas não posso.
Senão já sabemos o preço a pagar…
Contudo, tenho esperança e em breve isto não passará de um pesadelo.
Viva a LIBERDADE!
Texto da autoria de: Loulou