A Liberdade de... mami
liberdade desde a geração rasca que é um dado (direito) adquirido. uma realidade. um facto. algo que não se discute ou pondera. é tão certo e inconsciente como respirar. é imponderável imaginar que as coisas possam ser doutra maneira.
partindo da à frase feita: “só damos valor a algo quando o perdemos” sinto o ímpeto de refletir sobre a liberdade em tempos de pandemia. há um conjunto de direitos associados à nossa liberdade individual que foram suspensos pelo nosso estado. a nossa livre determinação, em alguns aspetos, está em stand by. esta situação dá-nos um cheirinho do que poderia ser a nossa vida com um regime que determinasse o que nós poderíamos ou não fazer ou dizer e quiçá seja uma maneira de valorizarmos os direitos que por outros foram conquistados há 46 anos atrás. sabemos, no entanto, que está é uma situação passageira, que em breve, gradualmente, voltaremos a ser livres … e é essa liberdade que começa agora a assustar-me. o sr. presidente confia nos portugueses, ora bem, eu sou portuguesa e não confio. arrogância? quiçá. receio? certamente. acho (e o que eu acho vale o que vale) que nós, os portugueses e as portuguesas, temos alguma dificuldade em viver no meio termo; que, tendencialmente, se não houver um perigo eminente ou uma restrição, desvalorizamos. que para nós o meio termo é equivalente a está tudo bem, o risco é baixo, vamos lá continuar com a nossa vida. num pais tão belo, onde se bebe e come tão bem, com o sol a chegar e as esplanadas, praias e parques a aclamar por todos aqueles que estão confinados a seus lares há quase dois meses… é difícil resistir.
recorrendo a outra frase feita: “a nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro”- questiono: conseguiremos ser livres em conjunto e harmonia, como numa bela peça de dança? seremos nós capazes de, respeitando o risco que poderemos representar para o outro e o outro para nós, ser equilibrados nas decisões que esta nova liberdade nos trará?
confesso não estar muito otimista e espero, honestamente, estar errada e que este povo latino consiga:
1 – segurar a saudade daqueles que tanto ama
2 - controlar a vontade que o sol, neste pedaço de terra à beira-mar plantado, lhes trará
3 – não banalizar as regras básicas de segurança iludido por uma camuflada normalidade
neste contexto que agora vivemos, liberdade é, mais do que nunca, responsabilidade.
Texto da autoria de: mami