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Liberdade aos 42

Liberdade aos 42

13
Set19

A Liberdade de... Robinson Kanes


 

atenas_grecia.jpgAtenas_Grécia

 

Nas suas sucessivas tentativas para conceber a ideia de liberdade, o homem está constantemente a trocar uma forma de escravidão por outra.

Aldous Huxley, in "Sem Olhos em Gaza".

 

 

...Liberdade... 

... Liberdade...

 

Será que podemos dizer que somos totalmente livres? Não! A liberdade é e será sempre limitada para nós, seres humanos organizados. Não somos cegonhas para apregoar a liberdade como um direito que a vida nos coloca, um pouco como defendia Redol. Tentarei não ser demasiado filosófico e prender-me em questões do quotidiano.

 

Importa perguntar-me porque é que tão poucos estão dispostos a acompanhar a senhora que anda de mamas à vista e, como ela, a mostrar o peito em frente às balas e ao aço das espadas. Na verdade, até que ponto estamos dispostos a defender a nossa liberdade? Apregoamos que temos direito a tudo, a maltratar empregados de mesa só porque sim, a incomodar os vizinhos só porque temos direito, a fazer de todos os outros lixo em prol da nossa liberdade, a criticar tudo e mais alguma coisa só porque achamos que estamos no direito "de" e isso nos faz parecer alguém. Será que não submetemos a nossa liberdade a uma espécie de esclavagista tirania? Afinal,  uma das últimas coisas que um tirano possui é liberdade - poderá possuir poder, mas nunca liberdade.

 

Cito, não raras vezes, alguém que me poderia fazer parecer um comunista, mas estou muito longe disso - Lenine afirmava que a "liberdade é um bem tão precioso que tem de ser controlado". Concordo, do excesso de liberdade saíram as maiores atrocidades que a História já conheceu, as maiores atrocidades que já cometemos contra outrem, mesmo que no aconchego do nosso diminuto dia-a-dia. Até mesmo que, embrenhados em letras e discursos de boa-vontade, no fundo, também nós temos o nosso feudo, a nossa fortaleza, o nosso gulag, a nossa courela tirânica.

 

Actualmente, a liberdade tende a transformar-se num dos males da nossa sociedade, e isso não pode ter lugar, não podemos deixar. A liberdade não pode ser utilizada para restringir o homem que diz não! A liberdade não pode ser castradora da cidadania e muito menos canibalizada em prol de uma dinamitação do pensamento, da opinião, do estar simplesmente - a condicionante à liberdade não se faz somente dentro de uma cela ou debaixo de uma censura com um lápis colorido. O petróleo do futuro, sobretudo para políticos e não só,  será o ambiente e a liberdade... E quando algo se torna o petróleo de certos meios, tende entrar por caminhos extremamente adversos.

 

Será que nos sentimos verdadeiramente livres quando permitimos que nos destruam como cidadãos, como país até? Será que o segredo dos tiranos é o simples facto da maioria não saber o que é a liberdade ou considerar esse facto apenas com a capacidade de poder dizer meia-dúzia de bitaites e incomodar o vizinho do lado sem ter uma força vigilante a controlar? Na verdade podemos apelidar determinado indivíduo de tudo e mais alguma coisa, afinal, amanhã ninguém se lembra e a impunidade continua a ter lugar - mas nós acreditamos que isso é a liberdade...

 

Mas, na verdade, quantos de nós somos livres? Será que somos assim tão livres, até quando fugimos de temas que nos podem condicionar a actuação? Será que somos tão livres assim que temos de obrigatoriamente encontrar um grupo de pertença ou então um grupo de não pertença aos grupos de pertença? Seremos assim tão livres quando padecemos do síndrome de mulher de mamas à mostra a correr na rua na procura de que alguém repare nela? Será que aqui e lá fora estamos dispostos, tantas vezes, a dizer não? A dizer não mas a apontar soluções, e aí o trabalho é a dobrar.

 

Mais do que um texto à liberdade, penso que o fundamental é pensar em tudo isto e muito mais... Talvez alguma conquista de liberdade esteja nisso... Talvez até a questão da liberdade humana venha a sofrer uma discussão mais forte com a existência de sobre-humanos e com o desenvolvimento da inteligência artificial - será que é preciso deixarmos de ser humanos para pensar em liberdade? Será que é preciso sermos subjugados para percebermos a importância da liberdade e, mais do que lutarmos por ela, saber utilizá-la?

 

São muitas perguntas, mas a liberdade também é isso, fazer muitas perguntas... sobretudo num país que castra quem as faz.

 

Texto e imagem da autoria de: Robinson Kanes

 

 

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