Homenagem aos Meus HERÓIS
Permitam-me que vos apresente os “meus” HERÓIS… cidadãos extraordinários, dotados de uma coragem ímpar, invulgar, “à prova de (quase) tudo”.
Travam diariamente, as mais duras batalhas, no anonimato, no mais ensurdecedor e profundo silêncio, sem almejarem qualquer reconhecimento público… tendo, muitas vezes, como única companheira e confidente a mais devastadora solidão.
Procuram “apenas” vencer a dor e o sofrimento, recusando-se a desistir do direito a uma vida digna e com qualidade.
Lutam, incessantemente, pelo mais elementar direito a desfrutarem de “apenas” mais um dia de luz, (mais um dia de vida) para estarem junto daqueles que amam e cujo amor torna cada momento único, mágico, instantâneo e, ao mesmo tempo, eterno.
Falo-vos de pessoas portadoras de doenças incuráveis, ameaçadoras da vida (em estadio terminal), conhecidas como doentes paliativos.
Durante os últimos 10 anos da minha vida profissional, tive o enorme privilégio de trabalhar directamente (e em exclusivo) com doentes oncológicos, em fase terminal de vida, e respectivas famílias/cuidadores (nos seus domicílios).
Estes doentes são muito especiais, munidos de uma força interior, de uma generosidade e resiliência absolutamente notáveis, impossíveis de descrever… inúmeras vezes esquecidos, abandonados à sua sorte, num qualquer corredor ou cama de hospital… ou… enviados para casa com a sentença de que “nada mais há a fazer”…”tem de ter paciência e…aceitar a vida como ela é”… condenados à agonia de (sobre)viver os últimos dias (semanas ou meses) da sua existência confinados ao isolamento e ao sofrimento…
É a estes HERÓIS, sem direito a estátua erigida numa qualquer praça deste país, sem reconhecimento, sem notoriedade… que eu quero, hoje, (e sempre) dar voz e prestar a mais digna e merecida homenagem.
As centenas de doentes (e respectivas famílias/cuidadores) que tive o enorme privilégio de poder conhecer e cuidar, provaram-me, inequivocamente, que há sempre algo que possamos fazer… quando a cura da doença já não é um objectivo realista é, sempre, possível e indispensável mitigar o sofrimento, proporcionar conforto, oferecer apoio e companhia… que se pode traduzir num ouvido atento, num ombro amigo, num abraço caloroso, na partilha genuína de lágrimas e sorrisos…
Cada um, que passou por mim (que cruzou o meu caminho) e que aceitou a minha presença e os meus cuidados, não me deixou igual e, muito menos, indiferente… levou um bocadinho de mim… mas deixou, sobretudo, muito de si, o que enriqueceu extraordinariamente a minha vida.
Apesar de ouvir a palavra “OBRIGADA!” proferida, vezes sem conta, por eles… eu é que tenho razões de sobra para agradecer, porque recebi, sempre, muito mais do que dei…
Para concluir, gostaria de expressar a minha enorme gratidão para com todos os doentes e respectivos cuidadores que me concederam o privilégio de enriquecer a minha vida e de aceitar ser cuidados por mim…
Eu não os ensinei a morrer mas eles ensinaram-me, todos os dias, a VIVER, a aproveitar cada momento!...