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Liberdade aos 42

Liberdade aos 42

30
Jul20

Sobre a não discriminação...


Sou frontalmente contra a discriminação... seja ela negativa ou positiva!

Ontem, ao ler esta publicação do R., em que ele relatava um episódio que havia presenciado na Baixa Lisboeta, envolvendo elementos de etnia cigana, ocorreu-me partilhar convosco a minha experiência com os cidadãos pertencentes a esta minoria étnica.

Desde miúda que sempre convivi com a comunidade cigana. Na escola primária tinha vários colegas ciganos e nunca tive qualquer problema relacional.

Já adulta, no decurso do exercício da minha actividade profissional, ao longo de mais de duas décadas, atendi largas dezenas de utentes de etnia cigana e nunca tive qualquer problema. Creio que esta minha experiência positiva decorre do facto de sempre os ter tratado como "iguais" a todos os outros cidadãos a quem prestava cuidados de saúde, com respeito e consideração, mas sem qualquer discriminação positiva atendendo ao facto de pertencerem a uma minoria étnica.

Gostaria de vos relatar um episódio que espelha bem o que acabei de escrever:

Há cerca de 8 anos, mudei de local de trabalho e fui trabalhar para uma localidade onde existe uma extensa comunidade cigana. Prestava cuidados de enfermagem ao domicílio num bairro conhecido por ser problemático, onde predominava a comunidade cigana.

Um dia, enquanto me deslocava para o dito bairro, na unidade móvel de saúde, avistei um dos utentes (cigano) a quem prestava cuidados no domicílio (porque o mesmo não tinha condições para se deslocar ao centro de saúde para a realização do penso - tinha um ferimento na perna causado pelo cão do vizinho quando invadiu o seu quintal!!!), a circular de bicicleta na beira da estrada... pedi ao motorista que parasse para eu poder falar com o utente.

Cumprimentei o senhor e disse-lhe:

""Sr. X", fico muito satisfeita por vê-lo a andar de bicicleta, o que significa que já está muito melhor e não precisa de cuidados de enfermagem ao domicílio! Amanhã, deverá dirigir-se à sua enfermeira de família, no centro de saúde, para a realização do tratamento!"

O utente ficou algo surpreendido, sem saber muito bem o que dizer... e depois lá disse:

"Está bem, Sra enfermeira, amanhã vou ao centro de saúde. Obrigado!"

Despedi-me do utente e dei indicação ao motorista para seguirmos viagem... este, com um ar incrédulo, pergunta-me:

 - "A enfermeira sabe quem é este indivíduo?"

Eu respondi que sabia, que era um dos utentes a quem prestava cuidados domiciliários e o motorista disse-me:

"É o pai do "Y cigano", o maior traficante de droga das redondezas!"

Ao que eu respondi que isso não me dizia respeito e não faria com que eu tratasse a pessoa de forma diferente...

No dia seguinte encontrei o utente no centro de saúde, que fez questão de me cumprimentar e dizer:

"Sra enfermeira, cá estou eu para fazer o penso, como combinado!"

Vale o que vale... mas é a minha experiência!

Sempre tratei todas as pessoas com respeito e dignidade - como cidadãos - com os mesmos direitos e deveres, independentemente das suas diferenças (de qualquer índole) e continuo a acreditar que é a forma certa de proceder!

 

3 comentários

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    MJP 30.07.2020

    Boa noite! :)
    Não pretendo com esta publicação "santificar" os ciganos... existem bons e maus como em todas as outras "raças/etnias"...
    Creio que o grande problema está no facto de, a população em geral, mostrar receio face à comunidade cigana, o que os "empodera" e os conduz a comportamentos disruptivos que devem, obviamente, ser punidos... (como, aliás, deverá acontecer a qualquer outro cidadão branco, amarelo, preto, verde, ou às pintinhas que apresente comportamento idêntico).
  • Sem imagem de perfil

    o cunhado 30.07.2020

    Boa noite, JMP.
    Também não pretendo isso. Nem santificar nem demonizar ninguém. As pessoas são o que são e há que aceitar isso.
    Mas se eu não me identifico com a postura, costumes, credos, enfim; com o sentido de vida de uma determinada etnia sou obrigado a aceitar isso porque senão sou apodado de racista, xenófobo e outros epítetos depreciativos que me quiserem atribuir?
    Também não obrigo ninguém a aceitar-me como sou e não insulto quem não se identifica comigo.
    Discriminação. Mas há, porventura, alguma etnia que não discrimine outra? Algum povo que não encontre defeitos cívicos ou religiosos noutro?
    Ou são, melhor dizendo; somos assim tão puros para aceitarmos tudo que venha dos outros mesmo quando tudo o que nos trazem não se coadune nem se adapte ao nosso sentido de vida? Para os que são, os meus parabéns, mas eu não. Aceito quem, em meu entendimento merece ser aceitado. E os outros que façam o mesmo a meu respeito .
    Porque se quisermos ser mesmo sinceros reconheçamos a verdade. Mentira e intolerância é algo que todos partilhamos por muito diferentes que as nossas vidas sejam.
    Na verdade todos nascemos verdadeiros. Todos morremos mentirosos.
    Todos nascemos inocentes. Todos morremos culpados.
    Mas podemos, e devemos respeitar-nos. E isso está muito longe de ser doutrina sagrada para os ciganos.
    No post do Kanes, que a senhora viu e comentou, o autor apresentou um caso por ele presenciado entre um casal cigano e um negro. Quem não respeitou quem? Quem ofendeu quem?
    ´Todos filhos da mesma Criação mas não somos, eu pelo menos, obrigado a viver em comunidade.
    Por isso dentro do respeito que todos os seres me merecem. Eles lá e eu cá.
    Resto de uma excelente noite


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