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Liberdade aos 42

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26
Out20

Alimentos de A a Z... Batata


No seguimento da rubrica "Alimentos de A a Z", hoje, apresento-vos a batata.

 

Alimentos de A a Z_batata.gif

 

 

A batata é o tubérculo mais popular do mundo e revolucionou a história da alimentação do povo europeu. Mas a espécie solanum tuberosum nem sempre granjeou tamanha fama entre os consumidores quando chegou à Europa, proveniente do Peru, na América Latina.

Todas as variedades de batata atualmente existentes – cerca de 3.000 em todo o mundo – descendem de uma única, originária da Cordilheira dos Andes, perto do Lago Titicaca. Embora no país dos Incas já se cultivasse e consumisse batatas há milhares de anos, este tubérculo ainda não havia sido disseminado pelo resto da América do Sul. Só no século XVI, quando os navegadores espanhóis e portugueses a provaram, no seu local de origem, é que a batata começou a ganhar mundo.

Não se sabe exactamente como nem de onde proveio, mas a tese mais consensual é a de que terão sido os colonizadores espanhóis a trazê-la para a Europa e a divulgar o seu cultivo, por volta de 1530. Saída directamente da mesa do império Inca e trazida para o “Velho Continente”, a batata causou, desde logo, pelo seu aspecto rústico, má impressão aos europeus, pelo que a população se mostrou reticente quanto ao seu cultivo. Tão desprezada era que foi acusada de ser maléfica e dar às bruxas o poder de voar, uma vez que nem sequer vinha citada na Bíblia. À época, acreditava-se que a aparência dos alimentos era uma indicação das doenças que podiam causar e, por se considerar que este tubérculo fazia lembrar as mãos de um leproso, rapidamente se espalhou o mito de que comê-lo causava lepra. A opinião por parte dos médicos da época também não era muito diferente, considerando-a indigesta e desenxabida, apenas adequada ao sustento dos animais e um mal necessário nas longas viagens dos navegadores pelo mundo – o que ajudou a disseminar a batata em geografias tão longínquas quanto a Índia, a China e o Japão.

A batata começou, antes de mais, por ser apenas uma curiosidade botânica, que muito agradava à aristocracia europeia. Dois séculos depois da sua introdução em Europa, Maria Antonieta adornava os seus cabelos com flores da planta da batata, enquanto o marido, o rei Luís XVI, as usava à lapela. O seu consumo como alimento generalizou-se apenas no século XVIII, fustigado por sucessivas crises alimentares e períodos de fome. Em 1710, 40% da população do Reino da Prússia morreu devido à escassez de alimentos e é nessa altura que a batata começa a ganhar a simpatia de alguns grupos. Em 1740, Frederico II, o Grande, rei da Prússia, mandou distribuir um manual sobre como cultivar a batata, com o objectivo de combater a inanição.

O agricultor e cientista francês Antoine Augustin Parmentier, depois de ter sido feito prisioneiro durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que opôs França à Prússia, e obrigado a comer batatas diariamente no seu cativeiro, é considerado o grande responsável pela disseminação do cultivo da batata em França e nos países a Ocidente. Ao regressar ao país de origem, publicou uma série de estudos que davam conta dos altos níveis nutritivos da batata e convenceu o rei Luís XVI de que este alimento poderia solucionar os problemas alimentares do povo francês.

A difusão do cultivo e do consumo da batata revolucionaria a Europa e as suas gentes. Fornecedora de todos os nutrientes essenciais, com excepção das vitaminas A e D, a batata também demonstrou ter uma grande produtividade não só por hectare, mas também em termos de calorias, capaz de duplicar a disponibilidade alimentar europeia.

A disseminação do consumo da batata no "Velho Continente" impulsionou um crescimento de 65% da população na Europa Ocidental. Melhor alimentados, mais férteis e mais resistentes a doenças, os países europeus encontraram também a estabilidade social e as condições necessárias para o arranque da Revolução Industrial.

No século XIX, a batata era o alimento mais importante dos operários nas fábricas, numa altura em que os ingleses também já a tinham levado para a América do Norte. O filósofo alemão Friedrich Engels, que com Karl Marx formulou o Manifesto Comunista, chegou mesmo a comparar a batata ao ferro, por ter um “papel historicamente revolucionário”.

Em Portugal, a batata foi inicialmente cultivada em meados do século XVIII, em regiões como Trás-os-Montes, Minho e Beiras. As invasões napoleónicas, no início do século seguinte, com os soldados franceses a trazerem batatas nas suas provisões, ajudaram a divulgar o alimento.

Em 1870, o livro de culinária O Cozinheiro dos Cozinheiros, da autoria de Paulo Plantier, coloca pela primeira vez a batata nos tratados de culinária, apresentado 18 maneiras de a cozinhar. Seis anos depois, outro livro, Arte de Cozinha, de João da Mata, introduz a batata nas mais variadas receitas, tornando-a indispensável à gastronomia portuguesa.

A batata inaugurou o século XX num papel de destaque no panorama agrícola e alimentar, mantendo a sua preponderância ao longo do tempo, sendo hoje uma das principais bases da alimentação humana, em todo o mundo.

 

Informação Nutricional

A batata contém uma elevada percentagem de água. É uma boa fonte de  (hidrato de carbono complexo), mas também de alguns  como o . O seu teor em proteínas, fibras e  é escasso.

Destacam-se as  C e B6, que existem sobretudo na pele do tubérculo, no entanto, nas batatas descascadas e nas que são submetidas a processos de cocção, este teor vitamínico vê-se substancialmente reduzido.

Embora o teor calórico da batata não seja muito elevado, este pode triplicar em processos como a fritura, uma vez que o tubérculo absorve grande parte da  usada no método culinário.

 

Composição nutricional
(100g de parte edível)

Batata Crua

Batata Assada com pele, sem sal

(só a polpa)

Batata Frita Caseira

(em palitos)

Batata Cozida

Energia (kcal)909022787
Água (g)7675,854,377
Proteínas (g)2,52,53,72,4
 (g)0010,80
 (g)19,219,227,618,5
 (g)181825,917,3
Fibra (g)1,61,72,41,6
 (mg)0,440,370,50,38
 (mg)14131311
 (mg)450480690370
g = grama; mg = miligrama e µg = micrograma. Parte Edível = diz respeito ao peso do alimento que é consumido depois de rejeitados todos os desperdícios. Fonte: Tabela da Composição de Alimentos – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

 

Vantagens e desvantagens

A batata é um alimento rico em  complexos (), e outras substãncias nutritivas, muito importantes numa alimentação equilibrada.

Quando cozinhada ao vapor ou no forno (em papelote) constitui um excelente acompanhamento no prato, fornecendo energia de forma saudável.

Dado o seu elevado teor em , é importante que indivíduos que sofram de insuficiência renal controlem muito bem o seu consumo – devem deixar as batatas 24 horas de molho (mudando duas vezes a água) e cozinhá-las em pedaços, para libertar o  na água da cozedura.

 

Como comprar e conservar

O consumidor deve ter especial atenção, no momento de compra, ao aspecto geral, forma e tamanho, assim como à sua cor, assegurando-se que não tem porções de cor verde. Esta cor na batata é indicativa da presença de um alcalóide tóxico, chamado solanina.

Uma vez compradas, as batatas devem conservar-se o menor tempo possível em local fresco e seco, protegidas da luz.

 

Como utilizar

A melhor forma de conservar as suas propriedades nutritivas e de evitar aumentar o seu valor calórico é cozinhar as batatas ao vapor ou no forno, envoltas em papel de alumínio (assadas com pele, sem sal e sem ).

 

Sugestões de utilização:

Batatas a murro

Batatas assadas

Batata salteada com bacon

Bolo de batata

Panquecas de batata

Puré de batata

Queques de batata e amêndoa

Salada de batata com molho vinagrete

Tortilha de batata e cebola à espanhola

 

https://www.porbatata.pt/consumidor/

https://saboreiaavida.nestle.pt/bem-estar/batata#gs.j1g4oq

https://www.livescience.com/45838-potato-nutrition.html

https://academic.oup.com/ajcn/article/106/1/162/4569823?papetoc

https://pubs.acs.org/doi/10.1021/jf2045262

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0955286316303795

 

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