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Liberdade aos 42

Liberdade aos 42

08
Abr21

"Serei o que me deres... que seja amor"


04
Abr19

Abril de 99...


Foi há quase meia vida atrás…

1999… corria Abril para o seu final… e eu (“verdinha”)… recém chegada à vida profissional…

No ambulatório (local onde se fazem tratamentos: pensos, injecções, etc….)chamei o utente que se seguia…

Pela porta do gabinete, entrou uma jovem franzina, com ar envergonhado… ao colo, trazia uma criança, com cerca de 4 anos, que chorava a plenos pulmões…

Ao tentar indagar o motivo de tal “desespero”… a mãe contou-me que, 2 dias atrás, o pequeno Y tinha entalado o dedo na porta do carro, o que motivara uma ida ao Centro de Saúde. Do acidente havia resultado uma pequena ferida que carecia de tratamento…

Vinha, então, trocar o penso…

O pequeno Y continuava em pânico, gritando e gesticulando, sem me deixar aproximar…

Pedi à mãe que o levasse para o exterior e o tentasse distrair e acalmar, regressando quando tal tivesse sucedido…

Volvidos cerca de 20 minutos, o Y voltou  mais calmo (continuava “alapado” ao pescoço da mãe… mas já não chorava…)

Resolvi despir a minha bata branca (que, vá-se lá saber porquê, tem um efeito perverso nas crianças), na tentativa de o tranquilizar... disse-lhe que podia ficar ao colo da mãe e que eu, apenas, queria dar banho ao seu dedo...

Preparei uma taça com bastante soro fisiológico e pedi-lhe que colocasse lá a sua pequena mão… desconfiado lá assentiu (depois de eu ter exemplificado)

Ao perceber que não sentia qualquer desconforto, começou a ficar mais descontraído e curioso sobre os objectos que o circundavam….

Passados alguns minutos, o penso começou a descolar e permitiu-me fazer o curativo de forma tranquila…

Na hora de ir embora, disse-me: "tu és fixe!!! Não doeu nada!"

Marcámos encontro para o dia seguinte… e… à hora combinada, lá estava o Y com a sua mãe…

Desta vez, vinha a caminhar, de sorriso rasgado e ar reguila…

Estendeu a mão fechada na minha direcção e disse: "adivinha o que tenho aqui!!!"

Respondi que não sabia e, de súbito, ele abriu a mão e disse: "toma… um presente para ti!!!"

Na sua mãozinha estava um lindo malmequer que havia colhido no caminho…

Fiquei muito feliz com o presente, dei-lhe um beijinho e agradeci, ao que ele respondeu… "agora somos amigos!!!"

Quando me preparava para descolar o penso, ele perguntou se, desta vez, podia ficar ao meu colo…

Respondi que sim! Sentei-me, acomodei-o no colo e lá comecei o tratamento… quando, de repente, ele me diz: “sabes… o meu pai é ladrão e… rouba carros e… está preso!!!”...

Fiquei sem reacção e, pelo canto do olho, observei a mãe a “escorregar”, encostada à porta do gabinete…

Perante o meu silêncio... ele perguntou: "não ouviste o que eu disse?!"...

Então... lá respondi: "sim, sim… ouvi"… ao que ele, naturalmente retorquiu… "agora somos amigos"… e continuou a conversar tranquilamente e a contar-me sobre as suas brincadeiras favoritas…

São assim as crianças… inocentemente genuínas…

Dia Feliz! 

 

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