Cuidar...
"Ao cuidar de si mesmo, você cuida dos outros. Ao cuidar dos outros, você cuida de si mesmo."
Buda
Portimão
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"Ao cuidar de si mesmo, você cuida dos outros. Ao cuidar dos outros, você cuida de si mesmo."
Buda
Portimão
Que vivemos tempos difíceis, ninguém duvida ou questiona...
Provavelmente, a palavra “crise” nunca foi tantas vezes proferida como nos últimos anos: faz manchete nos jornais, é motivo de abertura dos telejornais, dá azo a infindáveis debates televisivos, anda de “boca em boca”, “empurra” o povo para a rua, serve de desculpa e de justificação para (quase) tudo…
No entanto, importa perceber “o que é, afinal, isto da crise”!...
A que crise nos referimos?...
Uma perda de poder económico ou uma fragilidade de valores que sucumbem à pressão do ter e do haver em detrimento do ser?!...
Tomemos como base, para reflexão, o princípio da inviolabilidade da vida humana, emergindo a saúde como o seu bem mais precioso.
É amplamente difundido e parece consensual que “a saúde não tem preço”!...
Infelizmente, cada vez mais se constata que, esta máxima, encerra em si uma enorme falácia… a saúde sendo, efectivamente, um bem precioso, tem um preço cada vez mais elevado, tornando-se assim, cada vez menos acessível aos mais vulneráveis e dotados de fracos recursos económicos.
Os progressos das ciências médicas, verificados ao longo das últimas décadas, tiveram como consequência o prolongamento da vida (doenças que eram fatais, tornaram-se doenças crónicas).
O número de pessoas com mais de 65 anos, tem aumentado ano após ano, contribuindo para o acréscimo de doentes crónicos e dependentes.
Por outro lado a sociedade mudou, tal como a estrutura familiar.
Temos assistido a um decréscimo da natalidade, o que gera famílias nucleares, em contraponto às famílias numerosas de outrora.
Actualmente, é comum ambos os membros do casal trabalharem fora de casa, o que origina um problema gigantesco quando a doença bate à porta e é preciso alguém que cuide da mãe ou do pai doente e dependente.
Regra geral, é atribuída (leia-se, imposta) à mulher a função de cuidar, o que gera uma sobrecarga física e emocional, muito difícil de gerir.
As famílias vivem dramas inimagináveis, onde grassa o sofrimento, o desespero, o sentimento de impotência, de revolta, de abandono…
É urgente perceber a problemática que atinge esta geração sanduíche que tem filhos menores, que tem os pais dependentes a seu cargo e que, como se não bastasse, ainda lhes é exigido que exerça a sua profissão com empenho e dedicação.
Estas pessoas vivem em permanente conflito consigo próprias, sentem-se exaustas, no limiar das suas forças, completamente fragilizadas e abandonadas à sua sorte porque, na realidade, não existe qualquer apoio social para estas famílias que querem ser as melhores cuidadoras para aqueles que mais amam.
São, muitas vezes, incompreendidas e facilmente rotuladas de “famílias más, negligentes”, “que não querem cuidar dos seus idosos” e que, num derradeiro acto de desespero, os tentam “abandonar” num qualquer serviço de urgência, de um qualquer hospital público.
É fundamental que os profissionais de saúde tenham a capacidade de não cair na tentação de julgar levianamente com base em aparências e suspeitas que se revelam, inúmeras vezes, completamente infundadas e que traduzem, apenas, um pedido desesperado de ajuda e consubstanciam um acto de amor para com aqueles que mais amam e se encontram incapacitados de cuidar.
É essencial ter a sensibilidade e a coragem de querer ver para além do que parece óbvio e… é urgente cuidar de quem cuida e ajudar aqueles que querem cuidar mas não sabem e/ou não têm condições/competências para tal…
Creio que, será útil clarificar alguns conceitos, nomeadamente, em que consiste o acto de “cuidar”:
“Cuidar é um acto individual que prestamos a nós próprios, desde que adquirimos autonomia, mas é igualmente um acto de reciprocidade que somos levados a prestar a toda a pessoa que temporariamente ou definitivamente tem necessidade de ajuda, para assumir as suas necessidades vitais” (COLLIÉRE, 2003).
Agora, que já definimos “cuidar”, importa esclarecer o que se entende por “cuidador” e distinguir entre “cuidar formal” e “cuidador informal”:
“O cuidador é entendido como aquele que cuida, que presta apoio e assistência, a um indivíduo em situação de dependência, podendo esta situação ser permanente e irreversível ou transitória” (WHO, 2004).
"Os cuidadores formais são profissionais contratados, com carácter remuneratório, para a prestação de cuidados no domicílio ou instituição, tendo que haver uma preparação específica para este papel, estando integrados numa actividade profissional, que incluem tarefas inerentes ao conteúdo do exercício laboral, de acordo com competências próprias” (SOUSA, 2011).
“Cuidadores informais ou prestadores de cuidados informais - a família, os amigos ou vizinhos - são os que assumem parte ou a totalidade dos cuidados, de forma não remunerada” (SOUSA, 2011).
É sobre esta última tipologia de cuidadores que, na próxima 6ªf, 8 de Março, serão apresentados, discutidos e votados vários Projectos de Lei (partidos da oposição) e uma Proposta de Lei (Governo), que podem consultar aqui: http://app.parlamento.pt/BI2/
Os Cuidadores Informais são verdadeiros Heróis e Heroínas, que se dedicam, de corpo e alma, a cuidar de quem amam (porque, acreditem, só cuida quem ama), esquecendo-se de si próprios para levarem a cabo uma tarefa hercúlea... e... infelizmente (na esmagadora maioria das vezes), sem qual reconhecimento e apoio estatal.
Urge, portanto, legislar sobre este assunto... mas... muito mais importante que produzir lei é efectivar apoios, que se traduzam na melhoria da qualidade de vida das pessoas cuidadas e dos respectivos cuidadores.
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