Liberdade…
Há uma canção popular, celebrizada pelo cantor de intervenção Vitorino, que começa assim:
“Liberdade, liberdade,
quem a tem chama-lhe sua…”
Eis assim de forma popular o mote para uma palavra que é de todas as que existem no léxico luso e não só, a mais paradoxal. Principalmente porque a liberdade antes de ser um conceito político é uma forma de estar na vida.
Todavia o aproveitamento que, entretanto, os políticos fizeram da palavra e do que ela realmente representa ou deveria deturpou a sua real assumpção.
Em termos práticos (porque a teoria só serve para os manuais) a liberdade leva quase sempre a uma atitude antagónica ao conceito, já que a de uns entrará, quase de certeza, em conflito com a dos outros.
Ora se eu não posso fazer algo porque entro em litígio com a vontade de outro… então significa que a liberdade não existe na sua totalidade. Dou um mero exemplo: se eu estiver numa esplanada e na mesa ao lado alguém pegar num cigarro e o acender, a liberdade que eventualmente lhe assistirá de fumar chocará com a minha vontade de não ser incomodado com o fumo do tabaco. Resta por isso uma questão: quem deverá abdicar da sua liberdade, eu ou o fumador? Aconteça o que acontecer um deles perde a liberdade.
Repito a ideia acima assumida de que ninguém, na sua essência, é totalmente livre. Porque há uma série de regras instituídas (e não me cabe aqui analisá-las qualitativamente) que temos de respeitar. E aceitar! O que equivale dizer que se aceitamos é porque consideramos que poderia haver outra opção: quiçá a nossa própria!
Já nem falo da liberdade religiosa, política ou sexual. Todas elas muito coladas aos radicalismos, tão em voga nas actuais sociedades e obviamente muito perigosos quando extremados.
Tal como a liberdade de expressão ou de informação. Outro dogma com o qual muita gente não sabe lidar. Terei eu direito de dizer o que quero, de mostrar o que me apetece, quiçá chocando pessoas sem quaisquer consequências, só porque vivemos num país livre?
Lembro a este propósito aquela foto da criança refugiada morta numa praia de Itália e que tanto incomodou o Mundo. Um exemplo perfeito de como a liberdade nem sempre faz sentido.
Nasci e cresci na ditadura até que na minha juventude surgiu o 25 de Abril. Portanto sei avaliar o que é viver num país sem liberdade ou enfeitado dela. Sei o que foi calar o que pensava e por fim poder dizer o que sentia. Sei o que significa repressão e o extravasar de alegria sem quaisquer receios.
Sei tudo isso, mas também reconheço que a liberdade pura e dura será sempre um desejo de muitos para contentamento de poucos.
Texto da autoria de: José da Xã