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Liberdade aos 42

Liberdade aos 42

06
Out21

O Outono do Corpo...


"A existência não tem apenas um aspecto físico. As pessoas mais velhas podem estar muito mais vivas do que as jovens, porque já experimentaram muito mais coisas.
O problema da velhice é que, por medo da morte que se aproxima, as pessoas passam a ter medo de viver. Não entendem que o final de uma etapa é que torna possível o próximo passo; a Natureza nunca dá saltos. Da mesma maneira que não quebra os galhos jovens, tampouco impede que uma árvore, velha e cansada, deixe de existir.
Isto é o que chamamos «ordem natural das coisas». Muitas vezes imagino-me depois da morte, voltando lentamente aos elementos do solo; é a grande entrega, que muda tudo em silêncio e calma, para que as coisas possam renascer. A idade prepara o meu corpo para fertilizar de novo a terra de onde vim.
O Outono do corpo conduz ao Inverno, e o Inverno é necessário para que uma nova Primavera surja. Da mesma maneira, o meu espírito move-se de uma etapa para outra, sabendo que cada estação tem as suas qualidades e os seus defeitos."
 
Khalil Gibran, in 'Carta a Mary Haskell, 12 de Agosto de 1921'
 

Folha.JPG

Em Fátima...

02
Jul21

Liberdade...


Liberdade
 

E um orador disse: Fala-nos da liberdade!

E ele respondeu:
Nos portões da cidade e junto à vossa lareira, vi-vos prostrarem-se e adorarem a vossa própria liberdade, da mesma forma que os escravos se curvam humildemente perante um tirano e o louvam, apesar de ele os matar.
Sim, entre o arvoredo do templo e na sombra da cidadela vi o mais livre entre vós carregar a sua liberdade como um jugo e um par de algemas.
O meu coração sangrou dentro de mim, pois só podeis ser livres quando até mesmo a vontade de procurar liberdade se tornar um arreio, e quando deixardes de falar da liberdade como um objectivo e uma conquista.
Sereis realmente livres, não quando os vossos dias estiverem livres de preocupações, ou as vossas noites isentas da necessidade e de pesar, mas quando estas coisas assolarem as vossas vidas e, apesar disso, vos elevardes acima delas, nus e libertos.
E como vos elevareis acima dos dias e das noites, a menos que quebreis as correntes que, na alvorada do vosso entendimento, apertastes em torno do vosso zénite?
Na verdade, aquilo a que chamais liberdade é a mais forte dessas correntes, embora os seus elos brilhem ao sol e encandeiem os olhos.
E que são essas coisas que eliminaríeis para serdes livres senão fragmentos do vosso próprio Eu?
Se se trata de uma lei injusta que aboliríeis, essa lei foi escrita com a vossa mão, sobre a vossa própria testa.
Não podeis apagá-la queimando os livros de Direito nem lavando a testa dos juízes, ainda que derrameis o mar sobre eles.
E se se tratar de um déspota que gostaríeis de destronar, tratai primeiro de destruir o trono que lhe erguestes dentro de vós.
Pois como pode um tirano governar quem é livre e orgulhoso, excepto por uma tirania que existe na sua liberdade e uma vergonha que existe no seu orgulho?
Se se trata de uma preocupação a que gostaríeis de voltar as costas, essa preocupação foi escolhida por vós, em vez de vos ser imposta.
Se é um medo que desejaríeis suprimir, esse medo mora no vosso coração e não nas mãos de quem temeis.
Na verdade, todas as coisas se movem dentro do vosso ser num meio-abraço constante, as que desejais e as que temeis, as que vos causam repulsa e as que estimais, as que perseguis e as que quereis evitar.
Estas coisas movem-se dentro de vós como luzes e sombras, em pares que se agarram.
Quando uma sombra se desvanece e desaparece, a luz que subsiste torna-se sombra para outra luz.
E, assim, quando a vossa liberdade perde os grilhões, transforma-se ela mesma nos grilhões de uma liberdade maior.

 
Khalil Gibran
 
 

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Ria de Alvor

 

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