Mãe...
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"Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim."
Eugénio de Andrade, in Antologia Poética
No nosso jardim
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
(Carlos Drummond de Andrade)
Quando perdemos os nossos pais, o mundo parece-nos mais pequeno... talvez pelo facto de percebermos que somos a geração que lhes sucede, ou seja, (teoricamente) a próxima a partir…
Tomamos consciência da finitude e dos limites do tempo e do espaço que ocupamos…
Passamos a apreciar a Vida com outros olhos, outra sabedoria…
Aprendemos a valorizar o tempo e o que fazemos com ele, tornando-se o nosso capital mais precioso…
Queremos, “apenas”, deixar uma marca indelével no coração de quem amamos…
Hoje… o sentimento é agridoce…
O calendário assinala o aniversário de uma Pessoa Muito Especial (das que mais amo) e... quero (muito) celebrar a sua Vida… mas… é, também, o dia em que se cumpre o (primeiro) aniversário da morte da Minha Mãe…
Escolho celebrar a Vida, de coração pleno de AMOR, mas apertado de saudade…
"Já pensou na força e no poder da lágrima?
Pense agora um pouco no que vale esta gotinha de sentimento, que nasce na genuína fonte do seu ser emotivo e lhe cai dos olhos como expressão de si mesmo.
Ela é o retrato molhado do sofrimento, do mesmo modo que é a doce resposta do amor e da felicidade.
Ela vem dizer cá fora tudo o que você sente lá bem no fundo do seu ser."
(J.S. Nobre in Comece o Dia Feliz)
Hoje... são lágrimas de saudade, as que me escorrem pelo rosto...
Saudades deixadas pelo vazio da Tua ausência...
O primeiro ano em que já não estás comigo (fisicamente), neste Dia Especial que adoravas celebrar (o TEU Dia)...
Recordo o Teu Sorriso... o Teu AMOR à Vida... mas (ainda) não sou capaz de celebrar sem TI...
AMO-TE!
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