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Liberdade aos 42

Liberdade aos 42

07
Abr21

Sorrisos "sem rosto"...


Quem acompanha este blog sabe, certamente, que sou enfermeira (embora me tenha ausentado do exercício profissional)...

Durante o mês de Março, neste contexto terrível de Pandemia (que parece não ter fim à vista), tive uma experiência profissional que me marcou profundamente...

Uma das coisas que me causou maior angústia foi nunca poder revelar o meu rosto aos doentes... havia sempre uma máscara horrível que me cobria (e feria) o rosto...

Num dia particularmente difícil, um dos doentes, sabendo que eu estava de saída e parecendo adivinhar os meus pensamentos, disse-me:

"Gostaria tanto de conhecer o seu rosto... sei que não é possível... mas, o mais importante é que, guardarei para sempre o seu sorriso!"

Fiquei surpreendida com o comentário e perguntei como poderia guardar o meu sorriso  se nunca o havia conhecido?!...

Sorridente, respondeu-me:

"Posso nunca ter visto os seus lábios mas nunca esquecerei o seu olhar... você sorri com os olhos e esse sorriso alegra os nossos dias e renova-nos a Esperança!"

(Senti-me tão Grata!!!... fiquei emocionada e não consegui conter as lágrimas...)

Ele não sabe (nunca saberá)... mas aquelas palavras salvaram-me  naquele dia...

Obrigada!

 

Sorriso Primaveril.JPGNo nosso jardim

 

30
Jun20

2020 vai a meio... e os profissionais de saúde?!...


E assim, de repente (ou talvez não!), estamos a meio do ano...

Um ano diferente... arriscaria, mesmo, dizer que 2020 será, provavelmente, o ano mais atípico que a maioria de nós já experienciou...

Fomos brindados com acontecimentos inesperados (inimagináveis) que abalaram, provavelmente, algumas das nossas certezas...

Muito se tem opinado sobre o assunto... muitas teorias emergiram (com maior ou menor fundamento) sobre a origem do vírus, sobre a sua disseminação... 

No início do ano, creio que poucos pensariam que o vírus chegaria à Europa... à medida que o tempo foi decorrendo e as imagens do desespero (e da morte), que chegavam de Itália e de Espanha,  invadiam os nossos ecrãs, fomo-nos dando conta de que isto era "real"... que o "nosso dia" haveria de chegar... era inevitável a chegada do vírus a Portugal... muitos de nós, conhecedores das fragilidades do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) - onde eu me incluo - temeram o pior...

O SNS é (ou deveria ser) a "jóia da coroa"... a salvaguarda da nossa saúde, em última instância, da nossa Vida... o que é facto é que, ao longo de décadas, sempre foi negligenciado, subfinanciado, pelos sucessivos governos... era público... toda a gente sabia, mas ninguém parecia importar-se verdadeiramente... desde que "o trabalho aparecesse feito" ninguém queria conhecer "os meios usados para atingir os fins", porque o importante é ter estatísticas bonitas para apresentar - números de consultas, de cirurgias realizadas, etc....

Sempre houve uma tremenda falta de respeito pelos profissionais de saúde, estes sempre foram vistos como meras "peças de engrenagem" facilmente substituíveis... os sucessivos governantes nunca lhes prestaram atenção, nunca quiseram saber quem eram, nem precisavam de um nome, um número era suficiente para os identificar - o número mecanográfico - torna tudo mais fácil, não é?!...

Com a pandemia instalada, muitos rostos de profissionais de saúde tornaram-se públicos (por tristes razões), muitos tomaram consciência que os profissionais de saúde também são Pessoas, que têm famílias, amigos, que têm medos, fragilidades, que são vulneráveis ao contexto que os envolve... bateram-se palmas à janela, teceram-se rasgados elogios... mas...

O que é facto é que não sabemos quando esta pandemia chegará ao fim, prevendo-se que o caminho a percorrer ainda seja muito longo, e os profissionais de saúde, que não abandonaram a luta, continuam frágeis, vulneráveis, desprotegidos, com deficientes condições de trabalho, que não são novas mas que, em muitos casos, se acentuaram (e muito) com esta crise sanitária...

Os profissionais de saúde sempre acreditaram no SNS... ao contrário dos sucessivos governantes... que, apenas, se serviram dele e dos seus números (sem rostos)... e, lamentavelmente, prevejo que assim continuará...

 

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