Recordo as palavras do, então, Secretário de Estado da saúde, Dr. Leal da Costa, no início de 2013, em jeito de “desejo de ano novo”, que apelou aos portugueses para que recorressem menos aos serviços (públicos) de saúde, com o intuito de promover a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Afirmando que, “numa altura em que temos uma elevadíssima carga fiscal que nos é imposta pela necessidade de manter os serviços públicos, é importante que a sustentabilidade do SNS comece a ser encarada como obrigação de cada um de nós”.
Salientando que a manutenção do SNS é indiscutível para o Governo, o Dr. Leal da Costa, referiu que a solução para a sua sustentabilidade não residia, apenas, na “mera” cobrança de impostos e que era fundamental que os cidadãos começassem a ter uma atitude preventiva face à doença, de modo a diminuírem a sua afluência aos serviços de saúde.
Concordo com o Dr. Leal da Costa quando diz que os cidadãos devem adoptar comportamentos com vista à prevenção da doença e à promoção da saúde. Importa esclarecer como se consubstanciam tais práticas. É fundamental educar para a saúde, informando as pessoas sobre a relevância da adopção de hábitos de vida saudáveis, nomeadamente, fazer uma alimentação equilibrada, praticar exercício físico, reduzir os níveis de ansiedade e stress, ter horas de sono e repouso de qualidade, abandonar hábitos nocivos (tabaco, álcool, drogas), etc.
Se é verdade que a promoção/manutenção da saúde e prevenção da doença é responsabilidade/”obrigação” de cada um de nós, enquanto cidadãos, não é menos verdade que é responsabilidade/”obrigação” do Estado (governo) criar condições para que tal aconteça, designadamente, dotando os Cuidados de Saúde Primários (centros de saúde) de recursos humanos (sobretudo, enfermeiros e médicos) e recursos materiais adequados às, reais, necessidades da população.
Seria interessante perceber qual a razão que gera a afluência aos serviços de saúde. Não me parece que seja por “diversão ou porque não têm nada de mais interessante para fazer”, também não acredito que as pessoas fiquem doentes porque “lhes apetece”. Quem recorre ao centro de saúde ou hospital, certamente, considera que tem um problema de saúde e vai em busca de ajuda. As estatísticas demonstram que, algumas vezes, (talvez, demasiadas) se usam indevidamente os recursos (serviços), mas importa analisar porque é que tal sucede. Sinceramente, não acredito que as pessoas prefiram dirigir-se à urgência hospitalar, onde têm de pagar cerca de 20€ de taxa moderadora, se tiverem a opção de recorrer ao seu médico de família (no centro de saúde) onde, apenas, lhes são cobrados menos de 5€.
Lamentavelmente, foi sem surpresa que me deparei, no sábado, com a notícia de que, idas às urgências sobem e Governo falha objetivo.
Imagem: aqui
É essencial informar, educar, “ousar” sair do espaço físico do centro de saúde e ir ao encontro das especificidades e necessidades (reais) da população, num exercício activo de promoção da cidadania, através da dinamização de projectos de intervenção comunitária, tendo como público-alvo privilegiado a comunidade escolar e as associações e colectividades de cariz comunitário com forte impregnação e influência na matriz populacional.
O objectivo não poderá ser, nunca, afastar os cidadãos dos serviços de saúde como forma de promover a sustentabilidade do SNS.